quinta-feira, 16 de maio de 2019

Retomando um hábito... Novembro de 63 - Stephen King

Depois de alguns meses, terminei 22.11.63. Faz algum tempo que deixei de lado o hábito da leitura por entretenimento, mas há, agora, sérias intenções em retomá-lo.

O primeiro foi justamente esse, autor preferido, história interessante, baseada em fatos, bem pesquisada e bem desenvolvida.

A premissa de Novembro de 63 surge a partir da possibilidade da viagem no tempo e com ela modificar situações que tiveram grande impacto na história.

Jake Epping, O Viajante, porém professor de Literatura inglesa, é um personagem bastante interessante e bem construído, que nos faz participar da história, e nos instiga e comove no decorrer das páginas.

É interessante pensar na possibilidade das mudanças de situações e das alterações que estas mudanças promoveriam no tempo atual... Várias possibilidades, associadas e interdependentes, que se autoajustam quando necessário.

King relata no epílogo que tentou escrever este livro em 1972, sem sucesso pelas razões que ele expõe e que, eu acredito, bastante válidas. Seria bastante complicado mexer com a cabeça, os humores e a imaginação humana ainda tão perto dos atos ocorridos em 1963... E tendo-o publicado bem mais tarde facilitou ao leitor conhecer, ainda que muito superficialmente, uma pequena parte da história dos Estados Unidos da América.

O começo, como toda obra do King, é bastante descritivo, cheio de detalhes que acabam arrastando um pouco a leitura. A ação, as garras que seguram o leitor surgem no segundo terço do livro e vão aliviando sua pegada um pouco antes do final.

E o final... bem..

King não tem fama de bons finais, mas este, para mim, foi bom. Foi um final justo.

É um livro que leria novamente?

Com toda certeza!

sábado, 24 de março de 2018

Desastre - S. G. Browne

Quando adquiri o livro, a resenha e a sinopse que li pareciam bastante interessantes, mas demorei mais de um ano para ter a iniciativa de lê-lo e mais de um mês para terminá-lo.


A história gira em torno de divindades e seres supremos e superiores, como A Morte (Dennis), Fado (Fábio), Destino, Deus (Jerry), entre tantos outros personificados de maneira bastante caricata ao longo das 271 páginas do livro.

O autor, ao que parece, buscou um modo diferente, outra vertente talvez, para retratar a espécie humana e suas relações - entre si e na vida, de modo geral, sendo bastante irônico ao fazer críticas sobre o consumo exacerbado, o descaso em relação aos que não podem trazer vantagens, a falta de cuidado com as próprias ações e pensamentos e o quanto tudo isso influencia o modo como os seres humanos vivem suas vidas na Terra, mostrando o quanto uma ação ou decisão equivocada pode trazer consequências nefastas.

Ao encontrar-se com sua vizinha Sara, Fábio se apaixona e, no decorrer das páginas, suas palavras, ações e atitudes vão sofrendo mudanças que se baseiam no modo como ele gostaria de ser para que Sara se apaixone por ele. Entretanto, estas mudanças provocam alterações cósmicas e o desfecho da história é bastante interessante.

O início e o meio do livro são monótonos, quase levando a deixá-lo de lado, porém as últimas 90-100 páginas compensam a chatice inicial. É apenas no último terço que a ironia surge com vontade e os questionamentos existenciais ganham intensidade.

O final, apesar de surpreender, é rapidamente percebido pelo leitor nas páginas pouco anteriores. Contudo,  apesar disso, não desmonta a surpresa e confirma, até, as hipóteses sobre os questionamentos existenciais presentes.

É um livro pra ler quando não houver nada bom disponível na estante (ou no leitor digital, celular, tablet...).

Nota 6,5.

sábado, 3 de fevereiro de 2018

O Jardineiro Fiel - John Le Carre

Terceiro livro do ano: O Jardineiro Fiel, de John Le Carre

E, caso seja uma dúvida, não, não assisti ao filme. Ainda não, pelo menos.

Le Carre é um autor bastante conhecido quando se fala de seus livros. Com ótimas obras na linha de suspense, o autor tem uma escrita fluida, apesar de rebuscada, rica em detalhes e situações que podem envolver o leitor e fazê-lo prosseguir a leitura com bastante rapidez. Do contrário, isso pode também levar o leitor a desistir, pois os itens descritivos, em alguns momentos, são exageradamente hiperbólicos (desculpem o pleonasmo, mas só assim pra conseguir assimiliar isso).

Em O Jardineiro Fiel, livro lançado originalmente em 2001 e adaptado para o cinema em 2005 com Ralph Fiennes e Rachel Weisz, entre outros ótimos atores, temos uma linda e complexa história de amor e respeito.

Justin Quayle, criado para a diplomacia britânica e até determinado momento de sua vida um solteirão convicto, durante uma palestra apresentada como favor a um colega, conhece e casa-se com Tessa (Abbott) Quayle, uma mulher que acredita em si e na verdade, além de advogada que acredita na justiça acima de todas as coisas. 

No decorrer da história, e como mote principal, ocorre a morte de Tessa, brutal, desnecessária e um caso insolúvel - apesar da solução desenhada para e pela imprensa, destruindo a imagem da mulher ativista e daqueles que a acompanhavam em sua jornada.

Com a morte de Tessa e os interrogatórios, falta de informações e diversas situações conflitantes - entre elas o amor que sentia pela esposa -, Justin decide tomar para si o legado e a luta dela. Apesar das barreiras impostas, das estrondosas ameaças e diversas situações que o levavam a desistir, seu desejo de compreender o que havia ocorrido o fez continuar.

Lançando mão da então fortuna, herdada com a morte da mulher, Justin lança-se aos corredores e locais ermos e escuros em busca de respostas. Encontra algumas, esbarra em outras e, no fim, compreende o que Tessa percebia e via naquele local tão abandonado e usurpado pelo homem. 

De modo tranquilo e harmonioso, a leitura flui agradavelmente. O autor no carrega por caminhos ingleses e quenianos, nos traz amor, paz, ira, sarcasmo, esperança e, ao mesmo tempo, desesperança. É um livro denso, emocional, visceral, que contagia o leitor a cada página.

Ler O Jardineiro Fiel antes de assistir ao filme, provavelmente, vai proporcionar uma experiência bastante diferente. A descrição de Justin nos remete, de fato, ao ator escolhido para interpretá-lo, resta apenas saber se esta interpretação foi à altura do personagem de Le Carre.

Recomendo a leitura.

Nota 9,5!

quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

Todos contra Todos: O ódio nosso de cada dia - Leandro Karnal

Segunda leitura de 2018: Todos contra Todos: O ódio nosso de cada dia, de Leandro Karnal.

Certamente você já conhece o Karnal de alguma publicação, alguma frase, algum vídeo, algum livro ou pela televisão. Quem sabe até é (ou foi) aluno dele na Unicamp. Já acompanhei diversos Cafés Filosóficos, Carecas de Saber e tantos outros vídeos e textos que, constantemente, são publicados em sua página no Facebook

Em Todos contra Todos, ele faz uma demonstração clara e muito bem contextualizada sobre a questão dO Ódio Nosso de Cada Dia, pois garanto que, de bate e pronto, se eu (ou qualquer outra pessoa) perguntar o que você odeia, você certamente (ou quase) responderá: "Nada!".

O livro tem 138 páginas, recheadas de informações sobre o Brasil e o brasileiro, mas, principalmente, sobre o ser humano, pois é ele o grande motor desta terra. E de tantas outras.

Karnal traz aqui diversas explicações sobre o motivo de o ódio ser mais avassalador, enquanto sentimento, do que o amor, apesar de ambos serem muito similares e faces diferentes de uma mesma moeda.

Ao ler este livro, onde Leandro apresenta situações e momentos históricos em que fomos moldados e amordaçados pela sociedade E pelo governo, desenvolvendo antipatia, medo, raiva e, com isso, nos tornando agressivos, contra aqueles que nos são diferentes, porém, ao mesmo tempo, um espelho de nós mesmos.

Olhando bem criticamente, lá no fundo do nosso próprio ser, sabemos o que sentimos. Entretanto, aprendemos ao longo da vida, que determinadas palavras não devem ser ditas, que determinados sentimentos e sensações não devem ser nomeados, sequer verbalizados individualmente. 

É uma leitura que deveria ser realizada por TODOS. Todas as pessoas deveriam ler - e entender - este livro e todos os contextos associados. Quem sabe assim essa polarização política, social e, até, familiar, seria diminuída. É ilusão acreditar que isso deixará de existir.

E, apesar dos pequenos erros da revisão, é um texto bem escrito, fluido, gostoso de ler e com o sarcasmo típico do autor, que aqueles que já o acompanham conhecem bem.

Nota 9,5!

sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

Felicidade Demais - Alice Munro

Primeira leitura de 2018: Felicidade Demais, de Alice Munro.  

Indicação da psicóloga. Provavelmente por estar um tanto relacionado às minhas questões pessoais e de enfrentamento neste mundo estranho e altamente egocêntrico e egoísta, onde as pessoas querem relações instantâneas, sentimentos desenvolvidos ao primeiro encontro, à primeira vista, sem erros, sem falhas, sem bloqueios, sem restrições - onde tudo se pode e nada se deve. 

"Welcome to Medieval Era." :(

Voltando ao livro...

A obra, uma reunião de 10 contos, todos protagonizados por mulheres em fases diferentes da vida e vivendo em lugares diferentes do mesmo país, Canadá, à exceção do último, Felicidade Demais, conto que dá título ao livro e é um relato de ficção inspirado em uma personagem real: Sophia Kovalevsky. 

O trecho da história de Sophia apresentada no livro se situa no ano de 1891, final da vida desta protagonista e, por si só, grande desafiante do mundo em sua época. Sophia foi uma das primeiras mulheres admitidas no meio acadêmico como professora universitária, destacando-se, inclusive por seu pioneirismo na matemática. 

Cada um dos contos apresenta situações diferentes, onde é possível perceber o limiar entre emoções e sentimentos e como estes variam de acordo com as situações vividas e as expectativas depositadas nestas situações ou, até, nas pessoas envolvidas nestes momentos. E, em cada um deles, o apogeu, o fechamento de seu ciclo, de maneira expectante e, ao mesmo tempo, surpreendente, pois o leitor, durante as páginas, vai desenhando na mente as situações, chegando, provavelmente, a colocar-se no lugar da protagonista da história e criar as trilhas que ele próprio percorreria, porém, ao final, quando a surpresa se faz, percebe-se que as coisas são como são, ou como deveriam ser, independente da vontade ou "orquestra" individual de cada um.

É um livro pra ser lido com calma e disposição, sem falar da mente aberta, pois a autora usa de recursos de linguagem e narrativas que contribuem entre si para favorecer a compreensão e a assimilação da histórias de suas dez protagonistas.

Um conto por dia, em um horário tranquilo e sem cobranças. E, assim, é possível assimilar os medos, as incertezas, as alegrias, os amores e desamores, os dissabores e a felicidade de cada uma delas.

Leitura mais que recomendada. Principalmente se falarmos sobre o empoderamento feminino.

segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

Doutor Sono - Stephen King

Última leitura de 2017: Doutor Sono. Nada como um Stephen King pra finalizar um ano de leituras.

Apesar de terem sido poucas, pela média, ao menos, li um livro por mês. :) E isso, pra mim, é muito bom. 

Alguns livros do SK ainda aguardam para serem lidos nas prateleiras - virtuais e reais - mas já foram muitos pra conta. Este ano, li O Iluminado e sua sequência Doutor Sono. 

A resenha de O Iluminado você encontra aqui

Falemos, pois, de Doutor Sono

A premissa do livro: "A continuação de O Iluminado". Eu diria que este livro vai muito além disso. Este livro é a história de Dan Torrance. Muito mais que isso, talvez, é a história de Abra. A história de um Dom. Uma história de família.

Alcoolismo, perdas, dificuldades, medos, enfrentamentos, descobertas... Tudo isso, e muito mais, aparecem neste livro, permeado de momentos angustiantes, porém muito menos tensos do que os que são vivenciados no seu predecessor.

Seres predadores, que precisam e devem ser destruídos, mas seu poder, imenso poder, nunca antes foi confrontado e, no decorrer destas páginas, temos o prazer de conhecer a grandiosidade dos poderes de Danny.

Danny, aqui Dan, era uma criança atormentada por um dom que dificultava sua vida, suas relações e tudo o que era relacionado a isso. Vagueando pelo mundo, tornando-se aquilo que ele detestava, descobre seu lar em um pequena cidade interiorana, onde revê muito daquilo que acreditava ser o fim de tudo.

O livro, na minha edição, escrito em 476 páginas, poderia ser mais direto, mas os fãs conhecem bem a prolixidade de SK. Ao contrário, a história é prolongada, passando por diversos momentos [talvez] desnecessários ao leitor, entretanto complementares e fundamentais ao personagem de Dan Torrance

No decorrer das páginas há momentos de tensão, de medo, de incertezas, de reviravoltas e, no final, como para coroar sua habilidade em estragar as próprias histórias, King nos dá um término aceitável, que, apesar disso, poderia ser muito, muito diferente. E, provavelmente, bem  melhor. 

A história se desenrola na mesma atmosfera de O Iluminado e pode, com certeza, saciar o leitor mais saudosista de Jack Torrance e Dick Hallorann, mas, como o próprio King cita ao final em seu epílogo, "Um dia, numa sessão de autógrafos, algum fã me perguntou sobre Danny (...) e em determinado momento eu mesmo precisei saber (...)". E ele próprio deixa margem a uma possível continuação. Não poderia afirmar se escrita por ele, até se já escrita, ou por um de seus filhos (Owen, provavelmente), mas que eu acredito que nesta possibilidade para o futuro, sim, acredito. 

Pontas soltas foram deixadas, talvez sem querer, assim como em O Iluminado. Mas a história em si é boa. 

Poderia ser melhor?
Com certeza. Mas talvez era o que Stephen King, no auge dos seus 64 anos, tinha para nos dizer sobre Danny. Um Danny que ele conheceu aos 28. E que só reencontrou 36 anos depois.

Nota 8,5.

domingo, 17 de dezembro de 2017

Os Terroristas - Leandro Osterkamp Pedrozo

"De hoje em diante, cada corrupto será condenado por seus crimes; de hoje em diante, a ordem e o progresso que drapejam junto à bandeira deste país serão escritos com sangue."

Autor brasileiro, gaúcho, Leandro Osterkamp Pedrozo teve sua primeira obra, um thriller policial, publicado pela editora Novo Século, através do selo Novos Talentos no ano de 2013.

A obra, Os Terroristas, trata bem a questão da corrupção política no Brasil e o quanto isso está entranhado nos diversos níveis da sociedade brasileira. Apesar das possibilidades de "ajustes de contas" e de "fazer justiça com as próprias mãos", o povo brasileiro não tem a belicosidade que seria necessária à tais feitos e ajustes e, além disso, os contatos entre os grandes políticos e as possibilidades de "carta branca" que são recebidas por tantos policiais nestes meios favorecem ao fracasso daqueles que, eventualmente, tentassem.

Com a obra situada, em sua maioria, no estado do Maranhão, porém com cenas simultâneas em Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro, o autor traz detalhes de relações e favorecimentos em diversos escalões - da polícia ao político, com o povo no meio, servindo de base e ficando desnorteado pelos diversos e violentos acontecimentos.

Pedrozo aponta, no início de seu livro, que há ação do início ao fim do livro, porém boa parte da ação, que realmente prende a leitura, ficou para o último quarto das 286 páginas que compõem a história, o que torna a leitura um tanto cansativa e maçante, devido ao detalhamento dos diversos personagens e das localidades, assim como da grafia rebuscada do autor, que usa sinônimos complexos e pouco usuais para palavras simples e diretas. 

Além disso, o número de personagens e a deslinearidade da história acabam sendo outro fator dificultador ao leitor, que, se não for habituado a leitura, e ainda mais às idas e vindas em ambientações diferenciadas, vai se perder entre as tantas situações apresentadas ao leitor.

Ao final, as pontas soltas são amarradas em laço frouxo, o que poderia dar margem para uma continuação, apesar da baixíssima probabilidade. O protagonista, com toda a história e uma já experiência infrutífera poderia, eventualmente, buscar novas alternativas, mas, bem pouco provável. Até nisso a corrupção do brasileiro influencia. 

Nota 6,5.