quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

'Salem - Stephen King

Última leitura de 2015 escolhida a dedo. Queria fechar com o autor preferido e escolhi 'Salem, publicado outrora como 'A Hora do Vampiro'.

Como fã de Stephen King imaginava que seria uma leitura com momentos tensos e alguns momentos divertidos, mesmo engraçados, e foi exatamente o que encontrei neste livro.

Segundo livro publicado de King, 'Salem é uma história sobre vampiros, sobre a luta entre o Bem e o Mal e sobre a Fé. 

Ben Mears volta para cidadezinha de Jerusalem Lot buscando a recuperação emocional de um trauma de sua infância e acaba sendo "presenteado" com mais emoções controversas, dolorosas e ruins. E, além de Ben, temos o adorável, e extremamente bravo, Mark Petrie. Dois personagens incríveis e bem trabalhados pelo autor.

King gosta de explorar o sobrenatural e neste livro ele o coloca sob uma perspectiva bastante interessante, colocando um professor cético, agnóstico - e cardíaco, para conhecer e combater o Mal, utilizando para isso livros que remetem à literatura de horror, lendas e histórias de terror que todos desprezam como "contos da carochinha".

A construção da história é bastante interessante, pois, de certo modo, ele leva o leitor, faltando 150 páginas para acabar, a reler o prólogo, onde já é possível identificar alguns traumas e vínculos.

Os personagens tem uma boa profundidade. Mesmo aqueles que poderiam ser rasos, apenas para "encher a história", têm parte na trama, que funciona bem, mas poderia ser um pouquinho mais curta.

Em alguns momentos, talvez pela ânsia de escrever uma boa história (lembremos aqui que este livro veio em sequência à Carrie), King acaba exagerando um pouco nas descrições de momentos, lugares, emoções, provocando uma certa fúria no leitor que quer saber o que vai acontecer sem precisar pular as páginas, porque talvez naquele parágrafo possa ter algo relevante além da cor e da altura da grama do Monte Marsten.

King, como sempre, trabalha bem com as emoções do leitor, provocando raiva, insatisfação, medo, alegria e tristeza, tudo ao mesmo tempo e durante a leitura de um mesmo livro. No final, me surpreendi, pois ele não deixa a brecha que imaginei que deixaria e fecha a história de maneira magistral.

Não leva o título de Mestre do Horror à toa. 

Nota 9! 

sábado, 26 de dezembro de 2015

O Jantar - Herman Koch

Buscando uma leitura alternativa entre os temas mais comuns que costumo ler e, além disso, uma leitura gostosa e tranquila para este período de recuperação de energias, escolhi O Jantar, do autor Herman Koch

Encontrei, parcialmente, aquilo que buscava.

Neste livro, Koch apresenta um drama familiar que, teoricamente, seria resolvido durante um jantar num restaurante extremamente disputado pelos clientes, mas com reserva garantida para um político local super conhecido - claramente, o autor nos mostra a "corrupção" que ocorre por baixo dos panos, e que, num contexto geral bem amplo, não é considerada corrupção.

Os irmãos Lohman, Serge e Paul, e suas esposas, Babette e Claire, combinam este jantar para 'resolver' um problema em que os filhos se envolvem, que pode tomar grandes proporções, mas passíveis de penas brandas conforme as leis de Amsterdã. Apesar da brandura da pena, Paul, Claire e Babette não desejam que seus filhos sejam estigmatizados na sociedade em que vivem, o que poderia dificultar seu desenvolvimento social e profissional.

Apesar da premissa de suspense, a história, narrada em primeira pessoa por Paul, começa bem devagar, quase levando o leitor a desistir e buscar outro livro. Girando muito em torno de questões psicológicas, o autor apresenta situações delicadas no trato entre pessoas e, ainda mais delicadas, quando determinado ponto de vista não agrada ao interlocutor. Da metade para a frente, quando surgem as explicações e enfrentamentos é que a leitura flui de maneira bem agradável, fechando, magnificamente, o quebra-cabeças apresentado pelo narrador.

Há momentos dignos de uma grande história, muita ironia, até mesmo o sarcasmo aparece em determinados momentos, mas o que se sobressai desta história é realmente o quanto uma determinada situação pode provocar a fúria em alguém que não consegue se controlar, deixando impressões no leitor de que muito poderia ser diferente se os personagens não parecessem tanto com pessoas reais. E, além disso, há diversas referências cinematográficas bastante interessantes.

Acredito que o grande mote desta história é esse: mostrar uma realidade através da ficção, utilizando para isso diversos recursos que, na literatura, são bem aceitos e vistos como figuras de estilo e linguagem, pois não é sempre que alguém "explode" e a família distorce a situação.

Nota 8,5.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Prato Sujo - Como a Indústria Manipula os Alimentos para Viciar Você - Marcia Kedouk

Há alguns anos começaram algumas desmistificações em relação a alimentos, seja porque as pessoas têm apresentado maior índice de excesso de peso, seja porque algumas doenças que antes só existiam em idosos agora estão presentes em crianças e adolescentes, seja porque a comida tem sido demonizada ou vangloriada em diversos aspectos, por diversas pessoas.

Quando lançado, em 2013, como uma publicação da Revista Superinteressante, provocou um certo 'rebuliço', pois Prato Sujo, da jornalista Márcia Kedouk, tenta trazer algumas verdades sobre o modo como a nossa comida de cada dia é mostrada e produzida e isso interessa, e muito, às indústrias. E a indústria alimentícia é uma das maiores do mundo - afinal, ninguém vive sem comida.

Kedouk apresenta neste livro informações bastante relevantes - e interessantes - sobre o consumo do açúcar, sal, gordura e tantos outros alimentos que podem ser prejudiciais se consumidos em excesso - coisa que, de fato, acontece, e não apenas no Brasil, como em diversos outros países do mundo, além de também mostrar o lado da agricultura familiar e dos alimentos orgânicos, apresentados sob a promessa de resolver os males do mundo - o que, sabemos bem, não é verdadeiro.

Do ponto de vista técnico, os dados são bastante relevantes, embasados em referências e depoimentos válidos, como, por exemplo, quando cita a quantidade de açúcar consumido por crianças até 10 anos provenientes de bebidas açucaradas durante um ano: 21 quilos. E essa quantidade só aumenta quando falamos de adolescentes e adultos, chegando a uma média de mais de 30 quilos por ano de açúcar - sem contar os demais alimentos, apenas as bebidas como sucos e refrigerantes.

A leitura é bastante gostosa, interessante, trazendo informações sobre alimentos do dia a dia, mas não para demonizá-los ou santificá-los, mas para mostrar o quanto não sabemos sobre determinados alimentos industrializados, como, por exemplo, que aqueles tabletinhos de caldo de carne e de galinha têm mais açúcar, sal e gordura do que caldo de carne ou de frango propriamente dito.

Fala das dietas, com propriedade, mostrando que precisamos - e podemos - comer de tudo, moderadamente, para viver bem, de como os alimentos orgânicos são difíceis de produzir e distribuir e, que , por isso, são tão caros e, muitas vezes, inacessíveis à maioria da população, da Revolução Verde, que provocou o boom no uso de agrotóxicos e pesticidas visando aumentar a produção de alimentos para suprir, e sanar, a fome mundial.

No final, cita o movimento Slow Food, que teve início na Itália e que busca uma alimentação mais caseira, familiar, confortável, desacelerada... Tudo o que tínhamos há anos atrás, quando tínhamos saúde e peso adequado, não excessos, excessos e excessos, em diversas áreas.

Vale muito a pena a leitura.

Principalmente para quem é da área de alimentos.

Nota 10!

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

A Menina Submersa: Memórias - Caitlin R. Kiernan

Mais uma vez a Editora DarkSide Books faz a diferença.

A promessa de apresentar novos autores, com histórias obscuras, de Terror e Fantasia se faz presente em todos os livros da editora, mas A Menina Submersa: Memórias é totalmente diferente de tudo isso, ainda que se enquadre nestas premissas.

O livro trata das memórias de uma garota com diversos problemas psiquiátricos e psicológicos, escrito e descrito por ela mesma, onde ela própria retrata, de maneira bastante confusa, os complicados desafios de sua própria vida.

Primeiro livro da autora, o texto é carregado, cheio de referências culturais de diversas épocas, além de várias situações de confusão mental da protagonista, o que dificulta a relação do leitor com a história.

O livro trata de situações de cotidiano, mas com conflitos de personalidade bastante importantes. 

A história aqui apresentada por Kiernan não facilita, tornando o texto complexo e de difícil compreensão, com uma prolixidade desnecessária e passagens bastante dispensáveis, que, talvez, se ausentes, tornariam o livro uma verdadeira obra de arte.

Por se tratar de fatores conflituosos da mente de Imp, torna-se ainda mais difícil de entender o ponto de vista da autora, em um vai-e-vem que torna a história cansativa e um tanto chata de ler, pois se repete em diversos pontos no decorrer das 306 páginas.

 As edições apresentas pela DarkSide Books são lindas, com capas bem desenhadas, arte interna do livro bastante elaborada e a edição de capa dura, limitada, contribui ainda mais para chamar a atenção para a obra.

Desafiador - esta, talvez, seja a palavra para descrever categoricamente este livro.

As costuras finais da história de Imp, Eva, Abalyn e todos os outros fantasmas psíquicos presentes nestas páginas, crescem exponencialmente quando comparadas ao início do texto.

No final, ainda que com todas as dificuldades e desafios apresentados pela autora, é possível perceber traumas e vivências pessoais que podem transformar a visão de alguém - principalmente se esse alguém apresenta dificuldades de convivência, psicológicas, familiares ou de qualquer outra ordem que envolva relações, inter ou intrapessoais.

É um livro para ler com bastante disposição, querer e vontade, mas que no final presenteia o leitor com um enredo muito bonito de enfrentamento e vitória.

Apesar dos desafios, vale a leitura. 

Vale ainda mais a sua presença na estante e a compensação de conseguir enfrentar uma história tão desafiadora.

Nota 8.