Escrito em 1984, este livro é um dos marcos da cultura cyberpunk, tendo introduzido diversos elementos na literatura e também colaborado muito em tudo o que vimos no cinema na década de 90 e nos anos 2000. Toda a cultura literária recebeu influência do autor - de livros a histórias em quadrinhos.
Gibson nos apresenta um mundo pós-apocalíptico, com tantas nuances especiais que, no decorrer do denso texto, podemos ficar levemente confusos com sua temática principal: a ficção científica.
Robôs, realidade virtual, dermoimplantes, próteses e órteses robóticas, drogas sintéticas em escalas gigantescas... Coisas que, de certo modo, engatinhavam no início da década de 80 e que hoje temos a impressão de sempre ter existido.
Através de Case, um cowboy da Matrix (outra grande referência cinematográfica introduzida aqui), Gibson nos apresenta Neuromancer que, apesar da menção à necromancia, só a apresenta, em termos, nos capítulos finais, envolvendo o leitor de outras maneiras, como a dependência do cowboy e sua decadência, Molly, uma cyberninja que tem grande complexidade e provoca até certa confusão no leitor se este não estiver bastante atento ao decorrer da história, assim como outros personagens, alguns bem trabalhados como Peter Riviera e Armitage.
Alguns destes personagens são construídos de forma a "desorganizar" a história, trazendo momentos confusos que, praticamente, obriga o leitor a estar bastante atento e dentro da história, quase um participante, buscando na memória das muitas palavras já lidas sobre as referências e uma ordem lógica no texto.
E este é o grande "tchan" deste livro: não há uma lógica direta, clara, objetiva; muito aqui é subentendido, fica "no ar", porém, em compensação, é deixada ao leitor uma série de situações que ocorrem no mundo real e no virtual, se intercalando e se completando, sendo indepentes apesar da dependentes.
No final, o que fica é a impressão de que não acabou, como se instigando o leitor a buscar os outros dois volumes da Trilogia do Sprawl - Count Zero e Mona Lise Overdrive. Entretanto, podemos acreditar, com sinceridade, que isso nunca termina de fato, pois são infinitas as ideias e as buscas de cada indivíduo em sua realidade - esteja ele dentro de um livro, como seu protagonista, ou vivendo uma vida real, como seu leitor.
Nota 8,5.