sexta-feira, 29 de setembro de 2017

O Iluminado - Stephen King

Uma criança. Um dom. Ganância. Família. Isolamento.

Alguns dos principais elementos presente nesta história.

Lançado em 1977, O Iluminado é uma das histórias mais clássicas e conhecidas de Stephen King, já adaptada para o cinema por Stanley Kubrick, em um filme de mesmo nome, e adaptado, também, em uma minissérie em quatro episódios em 1997.

Nesta história conhecemos a família Torrance, formada por Jack (O Pai), Wendy (A Mãe) e Danny – uma criança de 5, quase 6 anos, que desde seu nascimento traz diversos questionamentos aos pais.

Danny tem um dom, e, apesar da pouca idade, sabe que sua mãe e seu pai se preocupam com isso, o que o faz desistir de falar sobre diversas coisas com eles.

Ao longo das páginas, conhecemos bem essa família. A princípio bem funcional, mas se degradando por conta do alcoolismo de Jack, chegando ao ápice disso com a contratação para trabalhar como zelador do Overlook Hotel, onde e quando boa parte da história se passa.

No Overlook conhecemos Dick Halloran. Personagem fundamental para a compreensão de toda a habilidade de Danny – o que favorece, inclusive, a compreensão das razões das situações ocorridas na história.

King, enquanto autor de obras de suspense e terror, mostra aqui realmente o motivo de ser chamado de Mestre do Terror.

A riqueza de detalhes e informações, bastante importantes, sobre os três personagens e suas relações trazem ao leitor uma experiência de convívio social com cada um deles, como se os conhecêssemos e sentíssemos suas dores e angústias.

A transição de família feliz para a disfuncionalidade, dificuldades de relação, medo, tensão, angústia, ficam presentes a cada página. A descrição dos pensamentos, dos sentimentos, dos medos... até à descrição das ações de Jack, Wendy, Halloran e Danny... é incrível. É exatamente como se sentíssemos cada ato, cada agressão, cada dor.


Sem medo de desagradar ao leitor (e, provavelmente, acreditando no fato de que os leitores vão gostar – e muito), King extrapola o nível de detalhamento, fazendo com que o leitor sinta cada momento, cada situação, cada desavença, cada pancada... E que acompanhe cada pensamento emitido pelos personagens.

Este ano a Suma de letras, editora pela qual os livros do SK são publicados, está fazendo novas edições dos livros dele, sob o 'apelido' Biblioteca Stephen King, em capa dura e uma edição lindíssima, pra colecionador e fã nenhum botar defeito.

Se seu gênero de leitura preferido é suspense/terror, e você ainda não conhece Stephen King, sugiro fortemente que comece por esse livro. Ele tem todos os elementos que fazem de SK o mais famoso. 

Fora que, mesmo dentro de alguns clichés, a história é fantástica!

Recomendo fortemente!

Nota 9,5! 

domingo, 3 de setembro de 2017

Na Minha Pele - Lázaro Ramos

Desfio literário 2017 - junho: um livro emprestado.

Junho já passou faz tempo, e comecei o livro no final de agosto, mas vamos tentar continuar seguindo o fluxo do desafio, não é? :)

E, bom, não foi um livro emprestado. Foi ganhado, com uma linda dedicatória, como presente de aniversário. E era um livro que eu queria muito ler! :) 

A proposta de Na Minha Pele, de Lázaro Ramos é discutir as questões essenciais em sua própria vida, mostrando ao leitor como é ser um ator negro no meio artístico brasileiro e, muito além disso, o que é ser um indivíduo negro, pobre, alvo de preconceito (naturalmente, apenas pela cor de sua pele) no Brasil e fora dele.

Lázaro começa falando de sua infância e de como foi sua formação, suas relações familiares e de amizade, seu desejo pela atuação no teatro, os desafios que enfrentou para conseguir alcançar esse desejo e toda a estigmatização envolvida em todo esse processo.

Em vários momentos de digressão, onde ele mesmo se desculpa por isso, ficamos conhecendo um tanto da relação com os pais, com familiares, com Wagner Moura e Vladmir Brichta, dos desafios, dos anseios e desejos de quebrar paradigmas e estigmas, de fugir do padrão, de enfrentar as situações lugar-comum...

Ficamos conhecendo Dindinha, a tia querida que criou ele e boa parte dos primos e outros familiares, de como foi sua infância na Ilha do Paty e dos desafios que enfrenta e enfrentará no seu dia a dia, enquanto homem negro, ator negro, pai, marido, filho... 

É engrandecedor. 

É realmente um modo de pensar nas diversas situações vividas no país, ainda que não se esteja inserido nelas. 

Bem sabemos que somos, diversas vezes, em diversos momentos, e por razões diferentes, alvos de preconceito, mas não temos o hábito de nos colocarmos no palco da vida de outros. Enquanto mulher, sei bem de algumas coisas, mas nunca sofri o preconceito racial - apenas o imagino, e o que imagino já não é nada fácil.

Houve uma fala dele que, automaticamente, me remeteu à produção cinematográfica de adaptação da obra de Stephen King: A Torre Negra (minha favorita do autor). 

Quando a produção anunciou que o ator que interpretaria Roland Deschain seria Idris Elba, muitos fãs e alguns admiradores do autor criticaram ferozmente a alteração do protagonista da história: Roland é 'O último pistoleiro', branco, de olhos azuis. Idris é negro. E foi o ator escolhido para interpretar esse personagem, saindo do lugar-comum, do padrão e, certamente, fazendo um papel à altura de sua qualidade enquanto ator. Uma das séries em que atua e que gostei muito foi Luther, pela qual ganhou o Golden Globe em 2012.

Então, eu compreendo quando Lázaro cita as opções de escolha de determinados autores para suas novelas e filmes. Esperamos, na grande maioria das vezes, que o ator/atriz escolhido para o papel nos remeta ao personagem que encontramos nos livros, mas nem sempre isso é necessário, afinal, televisão e cinema são outras mídias e, por isso, novas possibilidades se abrem. 

A discussão sobre preconceito racial, diferenças sociais e respeito, no Brasil (e em tantos outros países mundo afora), ainda está engatinhando. Mas, certamente, melhor engatinhar em frente, de cabeça erguida, do que ficar parado no mesmo lugar de sempre, deixando que outros - que não são melhores que ninguém - passem por cima atropelando.

Nota 10! :)