quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

Todos contra Todos: O ódio nosso de cada dia - Leandro Karnal

Segunda leitura de 2018: Todos contra Todos: O ódio nosso de cada dia, de Leandro Karnal.

Certamente você já conhece o Karnal de alguma publicação, alguma frase, algum vídeo, algum livro ou pela televisão. Quem sabe até é (ou foi) aluno dele na Unicamp. Já acompanhei diversos Cafés Filosóficos, Carecas de Saber e tantos outros vídeos e textos que, constantemente, são publicados em sua página no Facebook

Em Todos contra Todos, ele faz uma demonstração clara e muito bem contextualizada sobre a questão dO Ódio Nosso de Cada Dia, pois garanto que, de bate e pronto, se eu (ou qualquer outra pessoa) perguntar o que você odeia, você certamente (ou quase) responderá: "Nada!".

O livro tem 138 páginas, recheadas de informações sobre o Brasil e o brasileiro, mas, principalmente, sobre o ser humano, pois é ele o grande motor desta terra. E de tantas outras.

Karnal traz aqui diversas explicações sobre o motivo de o ódio ser mais avassalador, enquanto sentimento, do que o amor, apesar de ambos serem muito similares e faces diferentes de uma mesma moeda.

Ao ler este livro, onde Leandro apresenta situações e momentos históricos em que fomos moldados e amordaçados pela sociedade E pelo governo, desenvolvendo antipatia, medo, raiva e, com isso, nos tornando agressivos, contra aqueles que nos são diferentes, porém, ao mesmo tempo, um espelho de nós mesmos.

Olhando bem criticamente, lá no fundo do nosso próprio ser, sabemos o que sentimos. Entretanto, aprendemos ao longo da vida, que determinadas palavras não devem ser ditas, que determinados sentimentos e sensações não devem ser nomeados, sequer verbalizados individualmente. 

É uma leitura que deveria ser realizada por TODOS. Todas as pessoas deveriam ler - e entender - este livro e todos os contextos associados. Quem sabe assim essa polarização política, social e, até, familiar, seria diminuída. É ilusão acreditar que isso deixará de existir.

E, apesar dos pequenos erros da revisão, é um texto bem escrito, fluido, gostoso de ler e com o sarcasmo típico do autor, que aqueles que já o acompanham conhecem bem.

Nota 9,5!

sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

Felicidade Demais - Alice Munro

Primeira leitura de 2018: Felicidade Demais, de Alice Munro.  

Indicação da psicóloga. Provavelmente por estar um tanto relacionado às minhas questões pessoais e de enfrentamento neste mundo estranho e altamente egocêntrico e egoísta, onde as pessoas querem relações instantâneas, sentimentos desenvolvidos ao primeiro encontro, à primeira vista, sem erros, sem falhas, sem bloqueios, sem restrições - onde tudo se pode e nada se deve. 

"Welcome to Medieval Era." :(

Voltando ao livro...

A obra, uma reunião de 10 contos, todos protagonizados por mulheres em fases diferentes da vida e vivendo em lugares diferentes do mesmo país, Canadá, à exceção do último, Felicidade Demais, conto que dá título ao livro e é um relato de ficção inspirado em uma personagem real: Sophia Kovalevsky. 

O trecho da história de Sophia apresentada no livro se situa no ano de 1891, final da vida desta protagonista e, por si só, grande desafiante do mundo em sua época. Sophia foi uma das primeiras mulheres admitidas no meio acadêmico como professora universitária, destacando-se, inclusive por seu pioneirismo na matemática. 

Cada um dos contos apresenta situações diferentes, onde é possível perceber o limiar entre emoções e sentimentos e como estes variam de acordo com as situações vividas e as expectativas depositadas nestas situações ou, até, nas pessoas envolvidas nestes momentos. E, em cada um deles, o apogeu, o fechamento de seu ciclo, de maneira expectante e, ao mesmo tempo, surpreendente, pois o leitor, durante as páginas, vai desenhando na mente as situações, chegando, provavelmente, a colocar-se no lugar da protagonista da história e criar as trilhas que ele próprio percorreria, porém, ao final, quando a surpresa se faz, percebe-se que as coisas são como são, ou como deveriam ser, independente da vontade ou "orquestra" individual de cada um.

É um livro pra ser lido com calma e disposição, sem falar da mente aberta, pois a autora usa de recursos de linguagem e narrativas que contribuem entre si para favorecer a compreensão e a assimilação da histórias de suas dez protagonistas.

Um conto por dia, em um horário tranquilo e sem cobranças. E, assim, é possível assimilar os medos, as incertezas, as alegrias, os amores e desamores, os dissabores e a felicidade de cada uma delas.

Leitura mais que recomendada. Principalmente se falarmos sobre o empoderamento feminino.

segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

Doutor Sono - Stephen King

Última leitura de 2017: Doutor Sono. Nada como um Stephen King pra finalizar um ano de leituras.

Apesar de terem sido poucas, pela média, ao menos, li um livro por mês. :) E isso, pra mim, é muito bom. 

Alguns livros do SK ainda aguardam para serem lidos nas prateleiras - virtuais e reais - mas já foram muitos pra conta. Este ano, li O Iluminado e sua sequência Doutor Sono. 

A resenha de O Iluminado você encontra aqui

Falemos, pois, de Doutor Sono

A premissa do livro: "A continuação de O Iluminado". Eu diria que este livro vai muito além disso. Este livro é a história de Dan Torrance. Muito mais que isso, talvez, é a história de Abra. A história de um Dom. Uma história de família.

Alcoolismo, perdas, dificuldades, medos, enfrentamentos, descobertas... Tudo isso, e muito mais, aparecem neste livro, permeado de momentos angustiantes, porém muito menos tensos do que os que são vivenciados no seu predecessor.

Seres predadores, que precisam e devem ser destruídos, mas seu poder, imenso poder, nunca antes foi confrontado e, no decorrer destas páginas, temos o prazer de conhecer a grandiosidade dos poderes de Danny.

Danny, aqui Dan, era uma criança atormentada por um dom que dificultava sua vida, suas relações e tudo o que era relacionado a isso. Vagueando pelo mundo, tornando-se aquilo que ele detestava, descobre seu lar em um pequena cidade interiorana, onde revê muito daquilo que acreditava ser o fim de tudo.

O livro, na minha edição, escrito em 476 páginas, poderia ser mais direto, mas os fãs conhecem bem a prolixidade de SK. Ao contrário, a história é prolongada, passando por diversos momentos [talvez] desnecessários ao leitor, entretanto complementares e fundamentais ao personagem de Dan Torrance

No decorrer das páginas há momentos de tensão, de medo, de incertezas, de reviravoltas e, no final, como para coroar sua habilidade em estragar as próprias histórias, King nos dá um término aceitável, que, apesar disso, poderia ser muito, muito diferente. E, provavelmente, bem  melhor. 

A história se desenrola na mesma atmosfera de O Iluminado e pode, com certeza, saciar o leitor mais saudosista de Jack Torrance e Dick Hallorann, mas, como o próprio King cita ao final em seu epílogo, "Um dia, numa sessão de autógrafos, algum fã me perguntou sobre Danny (...) e em determinado momento eu mesmo precisei saber (...)". E ele próprio deixa margem a uma possível continuação. Não poderia afirmar se escrita por ele, até se já escrita, ou por um de seus filhos (Owen, provavelmente), mas que eu acredito que nesta possibilidade para o futuro, sim, acredito. 

Pontas soltas foram deixadas, talvez sem querer, assim como em O Iluminado. Mas a história em si é boa. 

Poderia ser melhor?
Com certeza. Mas talvez era o que Stephen King, no auge dos seus 64 anos, tinha para nos dizer sobre Danny. Um Danny que ele conheceu aos 28. E que só reencontrou 36 anos depois.

Nota 8,5.