domingo, 17 de dezembro de 2017

Os Terroristas - Leandro Osterkamp Pedrozo

"De hoje em diante, cada corrupto será condenado por seus crimes; de hoje em diante, a ordem e o progresso que drapejam junto à bandeira deste país serão escritos com sangue."

Autor brasileiro, gaúcho, Leandro Osterkamp Pedrozo teve sua primeira obra, um thriller policial, publicado pela editora Novo Século, através do selo Novos Talentos no ano de 2013.

A obra, Os Terroristas, trata bem a questão da corrupção política no Brasil e o quanto isso está entranhado nos diversos níveis da sociedade brasileira. Apesar das possibilidades de "ajustes de contas" e de "fazer justiça com as próprias mãos", o povo brasileiro não tem a belicosidade que seria necessária à tais feitos e ajustes e, além disso, os contatos entre os grandes políticos e as possibilidades de "carta branca" que são recebidas por tantos policiais nestes meios favorecem ao fracasso daqueles que, eventualmente, tentassem.

Com a obra situada, em sua maioria, no estado do Maranhão, porém com cenas simultâneas em Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro, o autor traz detalhes de relações e favorecimentos em diversos escalões - da polícia ao político, com o povo no meio, servindo de base e ficando desnorteado pelos diversos e violentos acontecimentos.

Pedrozo aponta, no início de seu livro, que há ação do início ao fim do livro, porém boa parte da ação, que realmente prende a leitura, ficou para o último quarto das 286 páginas que compõem a história, o que torna a leitura um tanto cansativa e maçante, devido ao detalhamento dos diversos personagens e das localidades, assim como da grafia rebuscada do autor, que usa sinônimos complexos e pouco usuais para palavras simples e diretas. 

Além disso, o número de personagens e a deslinearidade da história acabam sendo outro fator dificultador ao leitor, que, se não for habituado a leitura, e ainda mais às idas e vindas em ambientações diferenciadas, vai se perder entre as tantas situações apresentadas ao leitor.

Ao final, as pontas soltas são amarradas em laço frouxo, o que poderia dar margem para uma continuação, apesar da baixíssima probabilidade. O protagonista, com toda a história e uma já experiência infrutífera poderia, eventualmente, buscar novas alternativas, mas, bem pouco provável. Até nisso a corrupção do brasileiro influencia. 

Nota 6,5.


quarta-feira, 15 de novembro de 2017

A Seleção - Kiera Cass

Desafio literário 2017: Setembro: Peça para uma criança escolher.

Julho e Agosto tiveram seus dias passados e, em setembro, li O Iluminado, de um dos autores de suspense e terror que mais gosto. Em outubro comecei a ler Assim Falava Zaratustra, de Friedrich Nietzsche. Ainda não terminei. Nem na metade cheguei, aliás. É mais complexo do que eu imaginava que seria dar conta dele. A profundidade da história me pegou e vamos devagar, um capítulo por vez.

Semana passada minha filha me trouxe um livro da biblioteca da Fábrica de Cultura, com um bilhetinho que me obrigava a ler, ainda que não fosse um gênero que me agradasse.

O livro era A Seleção, de Kiera Cass.

300 e poucas páginas, levei 3 dias para ler - graças ao metrô e ao ônibus, em dois destes 3 dias, claro. E uma compreensão pelo motivo de eu estar com tanta dificuldade de ler Zaratustra: A Seleção é um livro raso. Apesar das lições sempre presentes, o nível da história não ultrapassa a barreira da compreensão rápida e imediata das situações e, mais ainda, nos dá, claramente, todas as cartas de um jogo que vai se estender por 5 livros. Em Assim Falava Zaratustra, Nietzsche fala sobre o existencialismo, filosofa sobre questões de vida, de ser, de ter, de saber, que me obrigam a ir com muita,  muita calma.

De todo modo, e apesar de todos os clichés, Kiera Cass conseguiu fazer uma história boa e interessante. Não é à toa que vende tanto. Lembrou-me um Jogos Vorazes (que ainda não li, aliás) de princesas. 

Sem pressa, Cass dissolve a história de América, Aspen e Maxon em 5 volumes, que têm emoção, carinho, cuidado, disputa, medo, desejos, lições sobre o feminismo e sororidade, a importância de uma boa gestão e da amplitude de visão administrativa, a importância de compreender a situação dos outros para só então tomar atitudes relacionadas a isso, sobre recuperação do Estado e da sua economia no pós-guerra...

A história se passa em Illéa, um país que se originou após a 4ª Guerra Mundial, onde os Estados Unidos da América deu lugar aos Estados Unidos da China e, na batalha pelo seu território, um homem, e suas ligações políticas e muita força e conhecimento, conseguiu retomar seu território. Uma distopia, onde a sociedade se divide em castas, com base em quem pode mais e quem pode menos, do ponto de vista financeiro e político.

Existe o romance, obviamente, mas neste livro a história é permeada por diversas situações individuais, disputas de ego, confusões sentimentais, desafios sociais e por aí vai...

35 garotas, de todo o país, entre 16 e 20 anos de idade, "entram" em uma disputa para ser a nova rainha. Mas nesse meio tempo, muita coisa acontece e apenas uma será a escolhida pelo príncipe.

É um compilado de situações - drama, comédia, romance... E é um livro bastante interessante.

Não faz meu gênero essa coisa de princesas, mas aqui, neste volume, o 1 de 5, a autora conseguiu me cativar e, por isso, já pedi pra cria me trazer o segundo volume - A Elite

De tudo, o que mais me chamou a atenção foi a questão da autossuficiência e do quanto isso é importante para nós seres humanos, tanto quanto o convívio social. Mesmo numa competição, a sororidade entre as participantes (algumas delas, claro!) é notável e fantástica. Deveria ser o modo como vivemos nossa vida em sociedade.

Vale a pena a leitura. 

Pelo menos, pra mim valeu o carinho - e o desafio. 

Nota 8,5! :)

sexta-feira, 29 de setembro de 2017

O Iluminado - Stephen King

Uma criança. Um dom. Ganância. Família. Isolamento.

Alguns dos principais elementos presente nesta história.

Lançado em 1977, O Iluminado é uma das histórias mais clássicas e conhecidas de Stephen King, já adaptada para o cinema por Stanley Kubrick, em um filme de mesmo nome, e adaptado, também, em uma minissérie em quatro episódios em 1997.

Nesta história conhecemos a família Torrance, formada por Jack (O Pai), Wendy (A Mãe) e Danny – uma criança de 5, quase 6 anos, que desde seu nascimento traz diversos questionamentos aos pais.

Danny tem um dom, e, apesar da pouca idade, sabe que sua mãe e seu pai se preocupam com isso, o que o faz desistir de falar sobre diversas coisas com eles.

Ao longo das páginas, conhecemos bem essa família. A princípio bem funcional, mas se degradando por conta do alcoolismo de Jack, chegando ao ápice disso com a contratação para trabalhar como zelador do Overlook Hotel, onde e quando boa parte da história se passa.

No Overlook conhecemos Dick Halloran. Personagem fundamental para a compreensão de toda a habilidade de Danny – o que favorece, inclusive, a compreensão das razões das situações ocorridas na história.

King, enquanto autor de obras de suspense e terror, mostra aqui realmente o motivo de ser chamado de Mestre do Terror.

A riqueza de detalhes e informações, bastante importantes, sobre os três personagens e suas relações trazem ao leitor uma experiência de convívio social com cada um deles, como se os conhecêssemos e sentíssemos suas dores e angústias.

A transição de família feliz para a disfuncionalidade, dificuldades de relação, medo, tensão, angústia, ficam presentes a cada página. A descrição dos pensamentos, dos sentimentos, dos medos... até à descrição das ações de Jack, Wendy, Halloran e Danny... é incrível. É exatamente como se sentíssemos cada ato, cada agressão, cada dor.


Sem medo de desagradar ao leitor (e, provavelmente, acreditando no fato de que os leitores vão gostar – e muito), King extrapola o nível de detalhamento, fazendo com que o leitor sinta cada momento, cada situação, cada desavença, cada pancada... E que acompanhe cada pensamento emitido pelos personagens.

Este ano a Suma de letras, editora pela qual os livros do SK são publicados, está fazendo novas edições dos livros dele, sob o 'apelido' Biblioteca Stephen King, em capa dura e uma edição lindíssima, pra colecionador e fã nenhum botar defeito.

Se seu gênero de leitura preferido é suspense/terror, e você ainda não conhece Stephen King, sugiro fortemente que comece por esse livro. Ele tem todos os elementos que fazem de SK o mais famoso. 

Fora que, mesmo dentro de alguns clichés, a história é fantástica!

Recomendo fortemente!

Nota 9,5! 

domingo, 3 de setembro de 2017

Na Minha Pele - Lázaro Ramos

Desfio literário 2017 - junho: um livro emprestado.

Junho já passou faz tempo, e comecei o livro no final de agosto, mas vamos tentar continuar seguindo o fluxo do desafio, não é? :)

E, bom, não foi um livro emprestado. Foi ganhado, com uma linda dedicatória, como presente de aniversário. E era um livro que eu queria muito ler! :) 

A proposta de Na Minha Pele, de Lázaro Ramos é discutir as questões essenciais em sua própria vida, mostrando ao leitor como é ser um ator negro no meio artístico brasileiro e, muito além disso, o que é ser um indivíduo negro, pobre, alvo de preconceito (naturalmente, apenas pela cor de sua pele) no Brasil e fora dele.

Lázaro começa falando de sua infância e de como foi sua formação, suas relações familiares e de amizade, seu desejo pela atuação no teatro, os desafios que enfrentou para conseguir alcançar esse desejo e toda a estigmatização envolvida em todo esse processo.

Em vários momentos de digressão, onde ele mesmo se desculpa por isso, ficamos conhecendo um tanto da relação com os pais, com familiares, com Wagner Moura e Vladmir Brichta, dos desafios, dos anseios e desejos de quebrar paradigmas e estigmas, de fugir do padrão, de enfrentar as situações lugar-comum...

Ficamos conhecendo Dindinha, a tia querida que criou ele e boa parte dos primos e outros familiares, de como foi sua infância na Ilha do Paty e dos desafios que enfrenta e enfrentará no seu dia a dia, enquanto homem negro, ator negro, pai, marido, filho... 

É engrandecedor. 

É realmente um modo de pensar nas diversas situações vividas no país, ainda que não se esteja inserido nelas. 

Bem sabemos que somos, diversas vezes, em diversos momentos, e por razões diferentes, alvos de preconceito, mas não temos o hábito de nos colocarmos no palco da vida de outros. Enquanto mulher, sei bem de algumas coisas, mas nunca sofri o preconceito racial - apenas o imagino, e o que imagino já não é nada fácil.

Houve uma fala dele que, automaticamente, me remeteu à produção cinematográfica de adaptação da obra de Stephen King: A Torre Negra (minha favorita do autor). 

Quando a produção anunciou que o ator que interpretaria Roland Deschain seria Idris Elba, muitos fãs e alguns admiradores do autor criticaram ferozmente a alteração do protagonista da história: Roland é 'O último pistoleiro', branco, de olhos azuis. Idris é negro. E foi o ator escolhido para interpretar esse personagem, saindo do lugar-comum, do padrão e, certamente, fazendo um papel à altura de sua qualidade enquanto ator. Uma das séries em que atua e que gostei muito foi Luther, pela qual ganhou o Golden Globe em 2012.

Então, eu compreendo quando Lázaro cita as opções de escolha de determinados autores para suas novelas e filmes. Esperamos, na grande maioria das vezes, que o ator/atriz escolhido para o papel nos remeta ao personagem que encontramos nos livros, mas nem sempre isso é necessário, afinal, televisão e cinema são outras mídias e, por isso, novas possibilidades se abrem. 

A discussão sobre preconceito racial, diferenças sociais e respeito, no Brasil (e em tantos outros países mundo afora), ainda está engatinhando. Mas, certamente, melhor engatinhar em frente, de cabeça erguida, do que ficar parado no mesmo lugar de sempre, deixando que outros - que não são melhores que ninguém - passem por cima atropelando.

Nota 10! :)

segunda-feira, 21 de agosto de 2017

A Rebelião de Lúcifer - J. J. Benítez

Desafio literário 2017 - maio: um livro ganhado. 

Apesar de ter demorado quase 4 meses na leitura deste bonitão, ainda o considero como "o livro de maio". Hahahaha :/

Enfim... 


Por vários momentos quase desisti da leitura dele, não devido à sua complexidade, mas pela extensão das muitas (MUITAS) explanações e explicações do autor durante as 478 páginas.

J. J. Benítez é bastante conhecido pela série de livro O Cavalo de Tróia, onde aborda a vida de Jesus Cristo e as várias situações históricas que envolvem esta persona. 

Em A Rebelião de Lúcifer não é diferente.
A contextualização histórica ocorre, e certamente muitas foram as horas de estudo para o desenvolvimento desta história contestadora, e é bem situada na Terra enquanto planeta de um sistema que é bastante diferente do "sistema solar" que temos conhecimento.

Apesar da aura de mistério e dos olhares intrigados de quem vê a capa do livro, com seu título nada atraente, da primeira à última página ficamos conhecendo como se deu a revolta e, posteriormente, a rebelião daquele que é tido como o "demônio em pessoa-anjo rebelde desrespeitador-ser egocêntrico que se acreditava maior que Deus".

Em uma linguagem culta, e carregado de explicações e contextualizações históricas de situações que nos foram apresentadas, em sua maioria, pela igreja católica - ainda que com muitas distorções -, Benítez nos mostra as possibilidades de essas situações serem MUITO diferentes de tudo o que conhecemos e, sequer, imaginamos.

Seus estudos, baseados no Livro de Urântia, publicado em XXXX, e que possui um capítulo para a dita rebelião, trazem questionamentos sobre tudo o que já foi dito, explicado e desdito em relação à chegada de Jesus Cristo à Terra, assim como da influência de Lúcifer (vulgo Satã) nas relações e comportamento humanos.

Em muitas das resenhas que li sobre este livro, várias delas apontavam que "se você não tem a mente aberta, nem leia esta obra". Eu, entretanto, penso exatamente o contrário: se tem a mente fechada para várias coisas da vida, que leia, que questione, que amplie seu pensamento. Nada é 100% exato na Vida e, nesse caso, a possibilidade de manipulação por parte dos seres humanos que mostram "como as coisas devem ser (ou foram)" faz ainda mais sentido que tal obra seja lida, questionada, discutida. 

O enredo, por conta das próprias explicações e do nível de detalhamento da história, é bastante denso e carregado e toma muito tempo de leitura. 

No final, a vontade de ver se há um segundo volume para conhecer a continuidade da história, é enorme. 
Sim! Apesar da densidade, e de toda a controvérsia envolvida na história, o autor nos deixa com aquele gostinho de quero mais. Provavelmente sua ferramenta de sucesso até hoje. 

Indico a leitura sem associar com outras atividades mentais/leituras ao longo de, pelo menos, um mês. Assim dá para desfrutar mais desse fantástico pedacinho de história.

Nota 8,5.

sábado, 22 de abril de 2017

Os 13 Porquês - Jay Asher

Desafio literário de 2107.
Abril: o último livro que você viu.

Em meio ao lançamento na Netflix de 13th Reasons Why , foi o livro que dá vida à série que eu escolhi.

Primeiro livro publicado de Jay Asher, a temática central do livro aborda diversos temas, mas os principais são o bullying e o suicídio

Entre eles, sobre muito se discorre, como assédio sexual, assédio moral,  desrespeito, desamor... E, também, conhecemos como está a cabeça de uma adolescente de 16 anos que passa por diversas dessas situações e que escolhe apontar os culpados, talvez para que estas pessoas sintam, apenas, um pouco da dor que ela própria sentia - ainda que não a verbalizasse.

A história toda é narrada em primeira e segunda pessoas, num diálogo indireto entre Hanna e Clay, que mostra como determinadas atitudes podem ser cruéis e desencadear reações inesperadas, às vezes, irreversíveis.

Apesar de ser um tema tabu e muito pouco discutido, porque muitos, ainda, infelizmente, consideram depressão uma frescura e, pior ainda, acreditam que isso se resolve com pancadas  (vide os posts de 'havaianas azuis' nas muitas timelines do Facebook, em alusão ao bizarro e terrível jogo da Baleia Azul), Asher aposta alto, e aposta certo, na abordagem e no modo delicado como nos mostra uma vida de depressão, dores, limitações e cobranças.

Muitas pessoas se identificaram com Hanna. Outros se identificaram com os bullyers - mas certamente nunca assumiriam isso -, e outros tantos se viram no papel de Clay: de mãos atadas por não ter mais tempo para fazer alguma coisa.

Não assisti a série (ainda), mas pelas conversas com colegas e com alunos, sei que a Netflix mais uma vez se superou e trouxe muita visceralidade (e muita realidade, entenda-se) para uma história triste e delicada.

No decorrer das páginas, sentimos a tristeza de Hanna, mas é a tristeza de Clay que nos consome e devasta. E, parágrafo após parágrafo, percebemos que o autor realmente teve uma ideia brilhante e a abordou de modo delicado e singelo, sem violência, sem transgressões, sem raiva.

É um livro que vale a pena ser lido?
Certamente.


Mas não espere cenas e descrições viscerais. Asher não utiliza esse recurso.

Espere (e tenha) empatia. Leia este livro com a mente aberta. Vocês foram adolescentes há algum tempo - se ainda não forem; e não é porque você não concorda e não sentiu as mesmas dores, com a mesma intensidade, que isso tudo é frescura, falta do que fazer ou de chineladas.


Nestas páginas encontramos amor e amizade.

E era o que deveria ser transcrito nos vídeos da série. Mas entendo que são mídias diferentes e que, na maioria das vezes, exigem técnicas diferentes para abordar a mesma obra.

Ainda devo assistir a série, mas já estava devendo essa resenha há duas semanas. Eis que aqui vai ela.

Nota: 9.

sábado, 25 de março de 2017

A Cor Púrpura - Alice Walker

Desafio Literário 2017.
Março: Um livro do ano em que nasci. 
E este foi o segundo deste mês. E me cativou grandemente. Tanto que tive que dar um tempo pra resenhar, senão seria uma das maiores resenhas, de tanto que gostei.

A Cor Púrpura, de Alice Walker, é um livro incrivelmente fantástico, escrito em 1982 e que em 1983 garantiu à autora um Pulitzer

Neste livro, muito bem escrito, Walker aborda o preconceito racial, as diferenças sociais entre homens e mulheres, a submissão feminina, o homossexualismo, as mudanças que ocorrem com o passar do tempo e do crescimento de uma pessoa que de pequena nada tinha, mas que se achava minúscula.

Início do século XX, sul dos Estados Unidos da América, onde as questões raciais eram bastante intensas, com muita segregação entre brancos e negros. E mais ainda entre os próprios negros. Luxo era ter um branco como escravo - literalmente comprado. 

Celie, a protagonista, vivia resignada às situações da vida, pois era o que tinha aprendido. Semi analfabeta, foi abusada, destratada, maltratada. É através das suas cartas que conhecemos sua história triste e de muita luta, mas com um final lindo e emocionante.

Escrito todo em primeira pessoa, a autora mostra o quanto foi sofrida a situação dos negros no sul dos Estados Unidos da América. Mais ainda, abordando, de certo modo, o feminismo, Walker nos apresenta os primeiros movimentos pelos direitos das mulheres de poderem pensar, ser e vestir o que quiserem, sem estar subordinadas às vontades dos homens - que se achavam seus donos e lhes batiam para garantir o respeito que lhes era devido. Semelhanças com a realidade de hoje há muitas. Infelizmente.

Celie aprende, vive, sente, chora, ama, odeia. E no passar de anos vivemos tudo isso com ela. Sentimos alegria, raiva, felicidade, saudades, medo, vontades... Tudo isso no decorrer das quase 300 páginas deste livro. E, no final, a vontade de que ele continue é maior.

A leitura é fluida, e o texto, escrito de modo a demonstrar as dificuldades da personagem em lidar com a linguagem, nos carrega conforme ela própria evolui ao aprender mais conforme os anos passam em sua vida. 

É uma leitura cativante, emocionante. Um livro pra ter na cabeceira e ler, pelo menos, uma vez por ano, pra lembrar do quanto pessoas já sofreram para que conseguíssemos ter direitos e voz. 

Há um filme feito a partir deste livro. Ainda não o assisti, mas pretendo fazê-lo em breve. Esperando, obviamente, que ele transmita toda a emoção que senti ao ler estas páginas.

Nota 10!



sábado, 18 de março de 2017

O Rapto do Menino de Ouro - Marcos Rey


Desafio literário 2017. 

Março: um livro publicado no ano que nasci. O ano era 1982. 

Entre as várias opções, escolhi um da Coleção Vagalume que nunca tinha lido: O Rapto do Menino de Ouro, de autoria de Marcos Rey.

É uma história juvenil que se passa na cidade de São Paulo, no bairro da Bela Vista, onde um garoto que se destaca cantando começa a ficar famoso, sofre um rapto e, pelo drama da coisa toda, a história se desenvolve.

Rey usa bem os aspectos da época: dramatização, excesso de personagens com funções na história,um gênio e um bandido que convivem no mesmo núcleo. 

Eu achei a trama até um tanto redundante (ou repetitiva, talvez), em que os elementos se sobrepõem e um deles sempre se destaca sobre os outros. O nível de mistério é baixo, mas ainda surpreende ao final da história.

É interessante pra entender como era o modo de produção literário há 30 anos, bom para reler por saudades e para compreender como as histórias de mistério cresceram tanto em qualidade nos últimos anos.

Nota 7.

quarta-feira, 1 de março de 2017

Perdidos na Babilônia - Peter Lerangis

O mês ainda não havia acabado e eu fiquei bastante curiosa para saber o que acontecia depois do final de A ascensão do Colosso .


#Livro3 de 2017, Perdidos na Babilônia é o segundo volume da saga As Sete Maravilhas, de autoria de Peter Lerangis.

Bem mais dinâmico que o primeiro volume, este livro já se inicia dentro de uma grande aventura. E tantas outras acontecem ao longo das páginas, prendendo o leitor fiel à história, na expectativa de descobertas e soluções de situações que ficam pendentes no final do primeiro volume.

O autor se apropria bem de seus personagens, mostrando que falhas de caráter existem e dependem muito do contexto social de cada pessoa.

Conhecemos uma incrível suposição de sobreposição de tempo e espaço, criando um continuum bastante interessante. E, claro, a trama ganha mais cor e sabor neste segundo volume.

A partir do terceiro terço, o livro se torna quase "inlargável", graças aos MUITOS e surpreendentes acontecimentos da história, que se desenrola em lugares de grandes significados da história do mundo, extremamente bem descritos e cheios de detalhes inesperados.

Este sim, vale bem a leitura.

Nota 9.

domingo, 19 de fevereiro de 2017

A Ascensão do Colosso - Peter Lerangis

Livro #2 de 2017. 

Desafio literário me pedia esse mês um livro com um dragão na capa. (Só no final foi que descobri que não era um dragão!) Escolhi A Ascensão do Colosso, de Peter Lerangis. Volume 1 da série As Sete Maravilhas.

Lerangis é norte americano e tem na conta mais de 150 livros, entre eles várias séries. 

Em, A Ascensão do Colosso temos uma história desenhada para ser divertida, cativante e de leitura sequencial e rápida. 

No início, sem compreender muito bem a proposta do autor por não ter lido nada sobre a série, eu esperava uma história mais pesada, com mais detalhes históricos, mais cansativa de ler e fui surpreendida por algo diferente.

Por conta de uma alteração genética rara e pouquíssimo crível, um grupo de jovens têm sua vida em risco e, com a ajuda de uma organização secreta, precisam resolver vários enigmas e enfrentar muitos desafios para, quem sabe, conseguirem resolver seu próprio problema.

Provavelmente buscando atingir o público adulto jovem e, até mesmo, adolescentes, o autor utiliza palavras de fácil compreensão, com linguagem bem atual, gírias e contextualiza a história na atualidade, utilizando termos como Google Maps, Angry Birds, entre outros, o que faz o leitor se sentir em casa e, inclusive, participando ativamente da história.

O começo da história é bastante descritivo e um tanto lento, mas logo depois das 30 primeiras páginas a coisa já começa a ficar bem agitada e muito interessante, pois já percebemos jogos de vida ou morte, tramas, desafios entre os personagens e várias aventuras para conseguir atingir seus objetivos. Isso deixa a leitura muito mais dinâmica, rápida e gostosa de aproveitar.

Lerangis deixa o final com a vontade de pegar o livro seguinte, porém no Brasil acaba de ser publicado o terceiro volume da série - que, eu suponho, será composta por 7 livros. 

É uma história para ler e se divertir, além de atualizar alguns conhecimentos históricos. Envolvendo a história do Reino Perdido de Atlântida, deve ter sido bastante interessante a construção desta série. Pois ela apresenta situações reais em locais reais, associando tudo isso ao grande mistério do sumiço do continente antigo.

É uma leitura que vale a pena, mas que não exige pressa. E mesmo para mim, que adoro literatura fantástica, achei que o livro poderia ser melhor. Aguardemos os próximos volumes.

Nota 7,5.

domingo, 5 de fevereiro de 2017

O Clone de Cristo - J. R. Lankford

Para o mês de janeiro, um livro de capa VERDE.

Entre todos os que peguei na mão, o escolhido foi O Clone de Cristo, primeiro romance de J. R. Lankford

Jamilla Lankford é engenheira. Com uma bela carreira internacional que abandonou, decidindo-se, em 1993,  a se dedicar à literatura, tendo, inclusive, fundado sua própria agência alguns anos mais tarde.

Nesta obra, Lankford aborda um tema bastante controverso: clonagem humana. E conseguiu fazer com que isso fosse o menos controverso de tudo, pois o clone viria justamente do Santo Sudário

Em um romance policial (talvez, até, médico?) bem escrito, a autora nos apresenta situações onde perda daquilo que se acredita verdadeiro leva a uma busca por referências familiares, sentimentais, e de crenças que podem, eventualmente, estarem em desencontro àquilo que se foi levado a crer. 

Ainda que pareça confuso, é isso o que autora nos mostra: Desencontros, perdas, medos, ansiedade, desespero, dor, fé, amor.

No meio de tudo isso, a busca pela verdade, pela solução de um grande dilema histórico, e, ao mesmo tempo, o desespero e a fuga de situações de vida ou morte. 

No transcorrer das quase 400 páginas, a autora apresenta um texto agradável, uma trama bem construída, muito bem embasada na história do mundo. Quando os critérios médicos são exigidos, estes são apresentados com riqueza de detalhes, que, talvez, até canse um pouco o leitor um pouco menos conhecedor do mundo da medicina. 

Entretanto, em momento algum, ocorre a perda de interesse nesta leitura.

Em determinados momentos, o texto se torna mais frenético, obrigando o leitor a, praticamente, devorar as páginas que se seguem, até atingir momentos de calmaria. Há, inclusive, momentos tão desesperadores que podem levar o leitor às lágrimas - literalmente. 

O final, laureado de modo surpreendente, deixa o leitor boquiaberto. Deixando o leitor com gosto de quero mais, esperando virar mais páginas e descobrir o que acontece depois.

De acordo com a editora que publicou esta edição, Saída de Emergência (hoje, no catálogo da Editora Arqueiro), a autora hoje trabalha em outro romance, sobre o navegador Vasco da Gama. Quando, e se, for lançado por aqui, deve ser uma obra que desperte a atenção dos bons leitores que gostam de um romance histórico. 

Quanto aO Clone de Cristo, recomendo fortemente a leitura. 

Nota 9,5.

Desafio Literário 2017

Ler é um hábito. 

Um hábito do qual eu gosto bastante. Estou sempre lendo alguma coisa. Entretanto, por conta das mudanças nos horários e nas demandas, no último ano li metade dos livros que li no ano anterior. Este ano, resolvi tentar seguir um desafio que achei ser interessante e que me pareceu minimamente plausível: Um livro por mês, no mínimo, com características específicas.


Comecei devagar, com muitas leituras técnicas em janeiro e muitos desafios para este ano no setor profissional e pessoal, mas vamos que vamos. Pelo menos uma leitura não técnica por mês deve ser possível. 

E aí, o que acham deste desafio?

Se vierem mais, melhor. Se não, paciência. 

Bora curtir o que já se tem! :)

O primeiro consegui terminar hoje. A resenha vem logo mais! ;)

segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

As Aventuras de Tom Sawyer - Mark Twain

No início de dezembro passado, terminando um livro e conversando com um amigo muito querido, recebi a indicação de leitura de As Aventuras de Tom Sawyer, de Mark Twain.

Thomas Sawyer é um menino órfão de pai e mãe, que vive com seu irmão Sid, ambos criados pela tia Polly. É uma criança alegre, que adora brincar, se divertir e demonstra grande sofrimento com a necessidade de ir à escola ou à igreja aos domingos, tendo apenas o sábado de folga para se divertir à vontade.

Acontece que em um destes sábados, por ter aprontado mais uma das suas, recebe um castigo que o deixa desolado, mas que ele mesmo, com suas artimanhas, consegue revertê-lo em seu próprio benefício, sem, com isso, deixar de cumprir com a tarefa imposta por sua tia Polly.

Em sua cabeça, milhares de possibilidades surgem, uma sempre mais atraente que a anterior, e os caminhos para atingir os objetivos são, geralmente, trilhados com o grande amigo Huckleberry Finn [que posteriormente tem sua história contada em um livro único e denominado o melhor livro do autor]. Mas, mesmo sendo um grande amigo, Tom não revela a Huck sua paixão por Becky, paixão que durante grande parte da história dá um verdadeiro susto na população da aldeia onde vivem e, por alguns breves instantes, também no leitor.

No decorrer de todas as suas aventuras, Tom e Huck acabam protagonizando juntos o último terço do livro, mostrando o quanto crianças podem ser maduras em alguns momentos da vida. 

Ainda que de grande ingenuidade, Tom e sua turma acreditam em todos os rituais, rezas e tudo o mais que escutam. Além disso, o autor trabalha a relação de confiança entre os personagens infantis, além de trabalhar isso também entre os personagens adultos, que, no fim das contas, não parecem tão mais maduros assim que as crianças.

Há trechos na história em que o leitor é quase carregado nos braços, noutros é deixado no chão a arrastar as próprias pernas. É uma história leve, com um perfil mais puxado para literatura infanto-juvenil, mas que não deixa absolutamente nada a desejar para o público adulto, pois leva cada leitor a relembrar seus tempos de criança.

Gostei muito da leitura. 
Huck Finn já é o próximo da fila! 

Nota 9,5!