sábado, 26 de novembro de 2016

A Hora do Lobisomem - Stephen King

King sempre está presente! 

Escrito no ano de 1983, este pequeno livro foi desenvolvido por um desafio feito ao autor em 1979, durante o World Fantasy Award.

A ideia era criar uma história-calendário, com eventos ocorrendo mês a mês e deu a oportunidade para que King criasse sua história de lobisomem.

O livro é curto (na versão digital são 56 páginas), e mostra a pacata cidade de Tarker's Mills, ao norte do Maine, onde, repentinamente, começam a ocorrer incidentes bizarros, atribuídos a algum psicopata pelo população local.

Entretanto, é bem diferente disso. 

E, mesmo em poucas páginas, é uma história bastante agradável e que prende o leitor ao longo dos parágrafos e provoca, até mesmo, aquela pequena falta de ar em determinados momentos.

A narrativa mostra situações do dia a dia, convertidas em momentos de terror para alguns dos personagens e deixa o leitor bastante curioso, apesar da deixa que facilita bastante descobrir o responsável por todos os ataques.

É um livro para ler rápido e chegar ao final levemente ofegante. 

Uma boa leitura.

Nota 8,5!

A Tirania das Dietas - Louise Foxcroft

Essa semana tive o prazer de ler essa contextualização incrível da história das dietas. Já há algum tempo esse livro aguardava sua vez na fila.

Com base em alguns textos que li, esperava uma crítica mais ferrenha, e recebi algo muito melhor!

Louise Foxcroft, doutora em História da Medicina, aborda de uma maneira bastante sutil e imparcial todo o contexto que nos leva a buscar mudanças corporais, tantas vezes desnecessárias.

Em A Tirania das Dietas, Foxcroft nos contextualiza alguns dos momentos e motivos da necessidade de 'perder peso' e modelar o corpo. 

Ao mesmo tempo, mostra o quanto a mulher é responsabilizada pela própria "desgraça" e, consequentemente, da "desgraça" de sua família, mais especificamente, de seu marido, já que elas os "superalimentavam com a finalidade de torná-los mais dóceis, cordatos, acríticos e burros" (grifo meu).

E quando se avalia a história das dietas é impossível não citar todos os que encheram os bolsos e as contas bancárias com a infelicidade alheia, contudo, ao mesmo tempo, nunca estavam satisfeitos e as críticas se perpetuam e se repetem infinitamente - deste modo, a indústria das dietas nunca perde.

É interessante perceber o quanto as cobranças de hoje são tão similares às cobranças no século XVI e XVIII para que a mulher seja linda, bela, perfeita e seja a responsável por tudo isso por si mesma. E o quanto o comer deveria ser cuidado, avaliado, mensurado antes de ser efetivado. E, comer por prazer, jamais!

Apesar das cobranças serem, principalmente, em relação à mulher, é importante essa contextualização para entendermos que tudo o que temos hoje em termos de dietas - dos gurus aos médicos que fazem milagres e dietas com grandes limitações em grupos alimentares - se repete desde os tempos antigos, recebendo nomes diferentes, e vindas de outras pessoas, é claro.

Ao final, Foxcroft faz um balanço geral, concluindo com o que parece ser muito claro e óbvio, mas que traz resultados a longo prazo e deveriam ser mudanças em um contexto de vida, não de um momento da vida:

"[...] É um processo lento, dificultado pelo nosso hábito de recompensas instantâneas e uma luxuriante variedade de alimentos. Os psicólogos dizem que você precisa usar o 'pensamento duplo' - ser otimista quanto à conquista da meta, mas também realista quanto a alguns dos obstáculos no caminho. O que precisamos é de uma ênfase diferente, que se afaste resolutamente das noções entranhadas de fracasso e fraqueza. Não podemos e não devemos separar a história das dietas da história da saúde, mas podemos fazer algo a respeito do peso do julgamento e do estigma do pecado e da tentação. Precisamos repensar, e radicalmente, a satisfação. O que precisamos é retornar à antiga filosofia grega [...]: devemos retomar o controle e deixar de ser escravos de paixões que se revelam não mais que engodos."

Para aqueles que estudam a respeito da alimentação e, também, para os que buscam um motivo para as mudanças, esse livro é muito bom. 

Penso que todo mundo deveria ter contato com essa obra, pois assim, quem sabe, entenderemos que não é um alimento que engorda, mas o que e como ele faz por nós, indivíduos que o comemos.

Nota 9,5!

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Precisamos falar sobre o Kevin - Lionel Shriver

Esta última leitura foi um grande desafio autoimposto. Principalmente por algumas questões pessoais de crenças e condutas, como pessoa e como mãe. Como reagimos e nos comportamos em diversas situações da vida, do cotidiano e diante de adversidades.

Precisamos Falar Sobre o Kevin é um livro que fala sobre maternidade, seus louros e suas dificuldades, tanto quanto fala sobre psico ou sociopatia (eu nunca consegui entender, claramente, a diferença entre os dois, já que um, para mim, sempre leva ao outro).

Shriver nos introduz à história mostrando o cotidiano de um casal, com todos os requisitos básicos de um casal comum e nos leva aos caminhos obscuros da mente de uma mulher que está feliz, mas que sente que 'ainda falta alguma coisa'. 

E essa coisa surge: seu filho - Kevin. Com o nascimento de Kevin começam as diversas situações que são belamente descritas em cada uma das cartas de Eva - até à última delas. Deixando o leitor desolado, com um final dramático e triste, de uma relação, porém, ao mesmo tempo com o início de outra.

A percepção da ausência de sentimentos pelo filho ou a percepção da distorção destes sentimentos é algo bastante discutido durante as muitas cartas que Eva escreve para Franklin, seu marido. Ao mesmo tempo, perceber-se no filho pequeno e aceitar as muitas mudanças que a maternidade trouxe  à sua vida são grandes desafios.

A autora aborda um tema delicado de ser trabalhado, mas o mescla com um tema super comum que é a maternidade. Entretanto, o jogo da história mostra que nem só de flores são feitas as mães e o fato de haver, ou não, um determinado sentimento não define a relação de uma mãe e seu filho. Do mesmo modo, a relação entre esses dois indivíduos é permeada de desejos, sentimentos, vontades, repulsas, medos... E, feliz ou infelizmente, a sociedade mostra-se sempre pronta à julgamentos, nem sempre plausíveis ou necessários.

De modo geral, apesar dos diversos momentos de tensão, de medo e de raiva ao longo das quase 500 páginas desse livro, as emoções, dispostas de modo tão visceral em alguns momentos, conduzem muito bem o leitor, fazendo-o sentir e pensar junto com Eva a relação com o filho problemático.

É uma leitura densa, carregada de emoções das mais diversas, que provoca e nos leva a pensar na nossa conduta individual diante das diversas situações da vida, do dia a dia, como pessoa, como pai e mãe, como filhos. 

E, ainda que em alguns momentos a vontade de largar de lado a leitura se sobressaia, vale a pena insistir. A carta seguinte sempre apresenta uma novidade.

Vale cada página!

Nota 9!